terça-feira, 17 de agosto de 2010

Cazuza e essa merda de inclusão digital

Ah, as maravilhas da inclusão digital e das redes sociais. A total banalização da estupidez. Até isso tá ficando banalizado hoje em dia, pra vc ver só…

O papo começou porque Mark Wahlberg comparou Justin Bieber ao rapper Tupac. Aí vagabundo reclama aqui, compara Tupac com os Beatles ali, concorda, discorda e tal e aí vc vai vendo que neguinho quer mesmo é opinar. Argumento mesmo é difícil encontrar.

Até que um vira e me diz que ele “não respeita idolatria a esses produtos da mídia”, porque isso é estúpido e completa, falando sobre Cazuza: Daí eu pergunto: Como eu posso idolatrar um cara que era um merda como pessoa, não tinha amor a vida, usava todo tipo de droga, trepava com homens, mulheres, animais e etc...”

(Pausa Dramática)

Esse tipo de posicionamento é muitíssimo mais comum do que se imagina. É a reprodução do discurso moralizante acéfalo e que não se sustenta a uma simples pergunta: E dai?

Como se pode condenar a idolatria aos ícones da música e usar o mesmo princípio no sentido reverso pra se mostrar avesso a um?

Azar que o cara era drogado, rebelde, viado, brigava com a família, fazia merda, morreu com AIDS... isso pouco importa. Celebrar um artista em sua expressão artística é apreciar o fato de que, no caso do Cazuza, de todo esse comportamento resultou uma sensibilidade artística impressionante, através da qual ele expressava de maneira positiva e extremamente inteligente as inquietações de sua alma libertária e contestadora.

Mais do que assumir o moralismo, é importante entender as características pessoais dele no contexto de sua criação artística e apreciar o resultado. Isso torna sua apreciação muitíssimo mais rica e significante.
Apreciar a arte sozinha e isolada é fazer dela um anteparo para seu próprio entendimento, interpretações e experiências (prerrogativa fundamental de qualquer expressão artística, afinal tão mais rica é uma obra de arte quanto mais profundos forem seus níveis de significação e conexões que ela permitir o observador estabelecer) e é muito válido. No entanto, quando se insere o fator artista e seu contexto, se adentra um nível e ela passa a ser entendida também a partir da mensagem que se propôs a ser enviada, o contexto em que ela foi concebida e a profundidade da sua expressão emocional. Ela se torna muito mais tocante e significativa.

Em suma, existem duas formas de você ler a letra de “O tempo não pára”. Parabéns para você que conhece a história de Cazuza. Emocione-se com ela.

Um comentário:

  1. artista interessante sem vício? sem mania? sem depressão? Sem história bizarra na família?

    hummm lembro não...

    kkkk

    obs: "não se sustenta a uma simples pergunta: E dai?" ADOREI! Vou adotar!

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